NefroConnect - Unmet needs identificadas no tratamento da doença renal crónica e diabetes tipo 2

Um estudo retrospetivo conduzido nos Estados Unidos da América demonstrou unmet needs no tratamento de doentes com doença renal crónica e diabetes tipo 2, particularmente em subgrupos com doença cardiovascular, doença renal crónica de alto risco (baixa taxa de filtração glomerular estimada ou rácio albumina urinária: creatinina elevado) ou doença renal crónica em rápida progressão. A baixa taxa de iniciação e alta taxa de descontinuação dos tratamentos recomendados sugerem que a adesão às guidelines para travar a progressão da doença renal crónica é insuficiente. Estes doentes de alto risco podem beneficiar de mais opções de tratamento para melhorar a morbilidade e mortalidade e reduzir a carga económica. A doença renal crónica (DRC), uma complicação comum mas grave da diabetes tipo 2 (DT2) que ocorre em 20-40 % dos doentes diabéticos, aumenta o risco de doença cardiovascular (DCV) e de doença renal terminal (DRT). As guidelines de tratamento recomendam o bloqueio do sistema renina-angiotensina-aldosterona e o tratamento anti-hiperglicémico com metformina e inibidores SGLT2 (iSGLT2) como tratamento de primeira linha. Avaliamos o início e a interrupção do tratamento em geral e em subgrupos de doentes DT2 com DRC incidente (coorte incidente) e as taxas de resultados clínicos e económicos em doentes com DT2 e qualquer DRC (coorte prevalecente). Atualmente, as guidelines de tratamento (KDIGO) sugerem tratamento farmacológico com bloqueio do sistema renin-angiotensina (RAS) para hipertensão, principalmente monoterapia com enzima conversora de angiotensina inibidores (iECA) ou antagonistas de recetores de angiotensina II (ARA II). Os doentes com DRC, DT2 e certas comorbilidades experimentam outcomes clínicos e económicos piores do que doentes com qualquer uma das condições isoladas. Este subgrupo clinicamente variado de doentes de alto risco é complexo, englobando doentes com mutlimorbilidades, doença cardiovascular ou anemia, doentes com progressão rápida ou DRC grave e doentes com diabetes descontrolada. Neste estudo retrospetivo das reclamações administrativas nos EUA, entre 1 de janeiro de 2007 e 31 de março de 2019, foi avaliada a proporção de doentes com concomitante uso de medicamentos anti-hipertensores recentemente iniciado e descontinuado [IECA/ ARA IIs), antagonistas dos recetores de mineralocortioides (ARM)] e antidiabéticos [SGLT2is, inibidores do peptídeo dipeptidil peptidase-4 (iDPP-4), agonistas dos recetores GLP-1 (AR GLP-1), insulina e sulfonilureias], taxas de resultados clínicos por 1000 pessoas-ano e os custos médios totais dos cuidados de saúde. Foram identificados 63 127 e 326 763 doentes nas coortes de DRC prevalecentes, respetivamente. Foram observadas baixas taxas de iniciação e altas taxas de descontinuação com 17,8 % e 56 % para IECA/ARA IIs, 1,3 % e 66 % para sMRAs, 2,5 % e 65 % para o SGLT2is, 3,7% e 66,8% para o DPP4is, 2,31 % e 69 % para os RAs GLP-1, 4 % e 75,7 % para a insulina e 5,5 % e 56,9 % para as sulfonilureias. Resultados semelhantes foram observados por subgrupos. As taxas de resultados clínicos variaram entre 35,07 por 1000 anos-pessoa para mortalidade por todas as causas a 104,19 para a DRT, com taxas de hospitalização que variam entre 36,61 para rim hospitalizações a 283,14 para hospitalizações de todas as causas. Entre doentes com co-morbilidades, foram encontrados outcomes clínicos e económicos com maior carga. Neste estudo (Fried Linda, et al. Nephrology Dialysis Transplantation.2022), foram observadas baixas taxas de iniciação e frequente descontinuação de tratamento com inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona e antagonistas dos recetores mineralocorticoides. Como explicação para estes achados, os autores propõem a incidência de efeitos adversos e admitem que os referidos fármacos possam ser simplesmente indicados para hipertensão resistente e insuficiência cardíaca, em vez da DRC, nesta população do estudo. No entanto, a falta de persistência dos medicamentos pode estar a contribuir para as elevadas taxas de outcomes clínicos encontradas no estudo ou para as outras indicações para as quais estes medicamentos são prescritos. É necessária mais investigação sobre as razões para a interrupção e os seus impactos. Assim, foi possível concluir que a baixa taxa de iniciação e alta taxa de descontinuação dos tratamentos recomendados sugerem que a adesão às guidelines para travar a progressão do DRC é insuficiente. Estes doentes podem beneficiar de outras opções de tratamento para melhorar morbilidade e mortalidade e reduzir a carga económica.