NefroConnect - Encontrada relação entre níveis de aldosterona e risco de insuficiência renal independente da presença de diabetes

Um estudo mostrou que níveis mais elevados de aldosterona sérica estavam associados a um maior risco de insuficiência renal em doenças renais crónicas (DRC), tanto para as pessoas com e sem diabetes. Saber se os antagonistas do recetor mineralocorticoide podem ter uma aplicação terapêutica mais ampla tem sido uma questão debatida desde que os ensaios de referência FIDELIO-DKD e FIGARO-DKD mostraram que a finerenona atrasou a progressão da DRC e reduziu a incidência de eventos cardiovasculares em doentes com DRC e diabetes.O medicamento obteve a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) para a prevenção da progressão do DRC com base nesses resultados, mas apenas para doentes com diabetes. Para tentar responder a esta questão, o presente estudo utilizou o Chronic Renal Insufficiency Cohort (CRIC) para analisar a progressão da CKD em 3 680 doentes com seguimento à análise inicial de 2003 a 2008. Nessa altura, uma média de 9,6 anos mais tarde, 1412 doentes desenvolveram DRC e 1129 participantes tinham desenvolvido uma doença renal em fase terminal.A idade média na coorte foi de 58,1 anos; 46,8 % dos participantes eram brancos, e 44,7 % eram mulheres. Cada duplicação nos níveis de aldosterona foi associada a 11 % (95 % CI 1,04-1,18) de maior risco de progressão de DRC para doença renal em fase terminal ou redução para metade da taxa de filtração glomerular estimada (eGFR), ao longo de um seguimento mediano de 9,6 anos. O quartil mais elevado tinha um risco 45 % maior de progressão de DRC do que os do quartil mais baixo. Notavelmente, o risco de progressão do DRC foi semelhante, independentemente de os doentes terem ou não diabetes concomitante (P=0,10 para interação). Segundo os autores do estudo (Verma A, et al.European Heart Journal.2022), estes resultados sustentam, do ponto de vista de mecanismo de ação, o uso dos antagonistas de recetor mineralocorticoide no atraso da progressão do DRC e sugerem que também podem ter um papel nos doentes que não têm diabetes. Com efeito, este estudo estende a relação entre o aldosteronismo patogénico e a progressão do DRC, além dos casos evidentes de aldosteronismo primário, do desenvolvimento do DRC à progressão do DRC e apenas daqueles com diabetes. Por outro lado, os receios de hipercalemia que têm travado o uso a longo prazo dos antagonistas dos recetores mineralocorticoides na DRC avançada foram largamente dissipados, já que a interrupção do estudo devido à hipercalemia ocorreu em apenas 1,7 % dos doentes finerenona-randomizados nos ensaios, em comparação com 0,6 % em placebo após um seguimento mediano de três anos. Globalmente, os estudos conduzidos até à data sugerem que os níveis de aldosterona devem ser avaliados em todos os doentes em risco de e/ou na presença de doença cardiorrenal, especialmente se tiverem obesidade central e/ou hipertensão resistente. Assim, são esperados resultados de mais ensaios clínicos, como o FIND-CKD, que consigam provar o valor do uso de antagonistas do recetor mineralocorticoide em doentes com DRC sem diabetes.